Olá pessoas queridas!
Vamos continuar a descobrir mais conhecimento sobre a Gastronomia? Hoje vamos abordar aqui alguns conceitos desenvolvidos sobre essa temática por diversos estudiosos ao longo do tempo e algumas particularidades...
Desejo boa leitura!
Observa-se o quão é antigo o
fascínio do homem em encontrar expressões e conceitos voltadas para o ato de se
alimentar, já que cozinhar é considerado como uma arte para alguns autores.
Vários estudiosos tentaram conceituar palavras inseridas na gastronomia, como cozinha e culinária.
Para Oswaldo Rico, “Culinária é cultura: misto de
etnologia, história, sociologia, folclore, pesquisa social, cruzamento de
caminhos na perseguição de um fim”. Para FREIXA e CHAVES (2012), cozinha e
culinária são sinônimos: Referem-se ao conjunto de utensílios, ingredientes e
pratos característicos de um país ou determinada região. Além disso, dizem
respeito também à arte de preparar os alimentos e às praticas e técnicas usadas
para esse fim.
A palavra comida, segundo DaMatta (1986), não é
apenas uma substância alimentar, mas é também um modo, um estilo e um jeito de
alimentar-se. E o jeito de comer define não só aquilo que é ingerido como
também aquele que ingere.
Carlos de Lima (2012) por sua vez, afirma que o verbo
comer, do latim comedere, é, segundo dicionários e enciclopédias, mastigar e
engolir, tomar como alimento, gastar, consumir, dissipar, omitir, roubar,
possuir sexualmente, provar, considerar, etc., etc.
DaMatta (1986) ainda referindo-se a
essa temática apresenta uma variedade de metáforas onde se usa a palavra comer
ou comida e onde o aro de alimentar-se tem significados preciosos. Assim, como
exemplo, ele cita que no Brasil, a expressão pão-duro refere-se a quem é avarento e, para economizar, come o pão
dormido, que fica, obviamente duro. Usa-se ainda a imagem do pão, pão, queijo, queijo para separar
coisas, acontecimentos e pessoas, pois não haveria nada mais distinto que o pão
(de origem vegetal e agrícola, que vai ao forno) e o queijo (de origem animal e
que se fabrica por meio de um processo de fermentação “natural”). Pode-se ter água na boca quando se deseja muito
alguma coisa; pode-se ser apanhado com a boca
na botija e, quando vitoriosos estar com a faca e o queijo na mão.
Criado pelo poeta e viajante grego
Arquestratus, no século IV a.C., a palavra gastronomia
é traduzida literalmente como “as leis do
estômago”, como resultado de suas experiências em suas expedições.
Tempos depois, já no final do
século XVIII, o escritor francês Brillat-Savarin trouxe de volta a palavra
expandindo o conceito, em sua obra “A fisiologia do gosto”, onde ele afirma que
a gastronomia é o conhecimento
fundamentado de tudo o que se refere ao homem na medida em que ele se alimenta.
A gastronomia seria a ciência que
agrega em si a culinária, as bebidas, as matérias primas, os utensílios
utilizados na preparação dos pratos, bem como os atributos culturais ou não
atrelados a este ato. Refere-se à arte de preparar as iguarias, tornando-as
mais digestivas, de modo a obter o maior prazer possível (LEAL, 1998).
Segundo FREIXA e CHAVES (2008),
(...) quando passamos a analisar a
alimentação sob o aspecto das tradições sociais, religiosas, das preferencias,
gostos e conhecimentos ligados à alimentação de determinado povo, estamos nos
referindo de gastronomia.
A gastronomia também é vista como
um elemento cultural, por apresentar símbolos, significados, situações,
comportamentos e imagens que envolvem a alimentação e paralelo a isso, ser
constituída por hábitos alimentares em um domínio em que a tradição e a inovação
tem a mesma importância.
Sob esse aspecto, Claude Fishler
afirma que o homem nutre-se também de imaginário e significados, partilhando
representações coletivas. Se for possível avaliar o valor nutritivo do alimento
(um combustível a ser liberado como energia e sustentar o corpo) o ato
alimentar implica também em um valor simbólico.
Para
Franco (2010), o alimento tornou-se tão rico em símbolos como consequência de
novos hábitos alimentares quando o homem deixou de se nutrir de raízes e de
frutas:
A
refeição começou a existir provavelmente depois que a espécie humana deixou de
se nutrir de raízes e de frutas. A preparação e a partilha das carnes exigiam a
reunião do grupo ou da família. A refeição é, assim, “a ritualização da
repetição de alimentos”. Por isso mesmo tornou-se tão rica em símbolos.
Atualmente, a gastronomia continua
se expressando por meio dos hábitos alimentares de cada povo, legado que passa
de geração em geração desde a pré-história, quando os nossos antepassados
partilhavam a comida que preparavam de acordo com os recursos alimentares
disponíveis nas regiões onde viviam. Cada comunidade foi criando a sua cozinha,
cuja seleção de alimentos era ditada pela tradição e pela cultura (FREIXA, E CHAVES. 2012, p.20).
imagem 4
Sob o ponto de vista de Fanco
(2010), “os hábitos culinários de uma nação não decorrem somente do mero
instinto de sobrevivência e da necessidade do homem de se alimentar. São
expressão de sua historia, geografia, clima, organização social e crenças
religiosas. Por isso, as forças que condicionam o gosto ou a repulsa por
determinados alimentos diferem de uma sociedade para outra”.
Ainda sob esse prisma, Farb e
Armelagos lembram que “os seres humanos são capazes de comer mais ou menos tudo
o que não os consegue comer antes”. Em outras palavras, o homem seleciona o
alimento no meio de grande variedade baseado em preceitos da sociedade na qual
está inserida. A cultura não apenas indica o que é e o que não é “comida”, como
estabelece o que é considerado “bom” ou “ruim”, “forte” ou “fraco”,
estabelecendo prescrições e proibições.
DaMatta (1986) afirma que para os
brasileiros, nem tudo que alimenta é sempre bom ou socialmente aceitável. Do
mesmo modo, nem tudo o que é alimento é comida. Para o autor, alimento é tudo
aquilo que pode ser ingerido para manter uma pessoa viva; comida é tudo o que
se come com prazer, de acordo com as regras mais sagradas de comunhão e
mensalidade.
Como citado anteriormente, o ato de
alimentar-se, para o homem vai além de “saciar a fome”, mas também, por
apresentar um valor simbólico, se transforma em objeto ritual, no sentido de o
alimento possuir uma relação com crenças religiosas. Para Ariovaldo Franco, os
alimentos e bebidas adotados pelos ritos de uma religião, bem como a proibição
de alguns deles, refletem a geografia e a cultura do território onde ela se
originou.
imagem 5
Refletindo sobre essa temática, a
culinarista e pesquisadora maranhense Zelinda Lima (2012) cita que em Maio, realiza-se
no Maranhão a Festa do Divino Espirito Santo, que ganha relevo na cidade de
Alcântara. Durante a Festa é servido comidas e bebidas próprias para a ocasião
como o bolo de macaxeira, biscoitos diversos, o famoso doce de espécie,
chocolate e licores sendo tradicional o de jenipapo.
Outro aspecto está na formação do
gosto. Em muitos sistemas culturais, o gosto e o olfato identificam e
hierarquizam as classes de alimentos naquilo que é comestível em oposição ao
que não é. Como exemplo, podemos citar a gastronomia sul coreana que tem como
característica as sopas, o segundo prato básico do país que tem como
característica serem sempre muito apimentados. Em contraste com a gastronomia
maranhense, que segundo Cavalcante (2007), é classificada como ter o tempero
leve, evitando pimenta em doses obrigatórias. A pimenta vai à mesa e cada um se
serve dela como bem entender.
Freedman (2009) faz uma análise
sobre a relação entre o homem e o alimento na pré-história. Uma das vertentes
que ele estuda é sobre a relação do gosto. Segundo ele, as implicações sobre
esse aspecto são obvias e simples:
“Os
povos pré-históricos tinham estômago para coisas que não comeríamos hoje em
dia. Eles comiam com regularidade alimentos que hoje consideraríamos
estragados. Pode-se demonstrar que comiam alimentos semi-apodrecidos (...)”.
Ainda sob esse
aspecto, Freedman (2009) afirma que gosto alimentar é uma questão de costume.
Em sua pesquisa ficou evidente que alguns povos pré-históricos pouco estocavam
alimentos, ao mesmo passo em que há evidencias de vários métodos de
armazenamento, como defumação e estocagem. Além disso, foi atestado evidencias
de que eles simplesmente toleravam alimentos que definiríamos como estragados.
Outros aspectos sensoriais que
determinam se os alimentos são apropriados ou não são a textura e o sabor dos
alimentos. Sob essa perspectiva, DaMatta (1986) chama a atenção para dois
processos dos alimentos: o cru e o cozido.
Segundo ele, o cru e o cozido, o alimento e a comida, o doce e o salgado
ajudam a classificar coisas, pessoas e até mesmo ações morais importantes no
nosso mundo.
Num plano mais filosófico e universal, o cru se liga a um estado
de selvageria (a um estado de natureza), ao passo que o cozido se relaciona ao
universo socialmente elaborado que toda sociedade humana define como sendo o de
sua cultura e ideologia. É possível descobrir que no universo da comida, o cru
e o cozido permite pensar o mundo integrando o intelectual com o sensível.
Culturalmente, essas concepções
variam. Para os europeus e norte-americanos, cru e cozido, alimento e comida,
são categorias cientificas, nem sempre levadas em conta no próprio ato de
comer, enquanto para os brasileiros, o cru e o cozido podem significar muito
mais facilidade um universo complexo, uma área do nosso sistema onde podemos
enxergar como formidáveis e nos levar finalmente, muito a sério.
Voltando na Era da pré-história,
Freedman (2009) indaga com a seguinte pergunta: “será que os povos pré-históricos apreciavam o sabor?”. Como
resposta a essa questão ele afirma que era bem provável que sim. Pois, ao
pesquisar a história da domesticação de cavalos no Cazaquistão, este autor
conheceu um criador local que lhe ofereceu uma tigela de koumiss, bebida feita de leite e égua fermentado. Enquanto os
cazaques tradicionais adoram essa bebida, para os ocidentais modernos, o sabor
é bastante repulsivo e provoca todas as reações naturais do corpo à comida
estragada.
imagem 7
Outro aspecto da gastronomia é que
ela constitui-se parte integrante da atividade turística, considerando que os
visitantes tem necessidades biológica de alimentação.
A relação entre a gastronomia e o
turismo acontece decorrente das mais variadas formas de atrativos para a sua
realização, todos eles irão de uma maneira ou de outra atrair estes turistas
para determinados destinos turísticos.
Nesse contexto, a gastronomia
aliada ao turismo torna-se um atrativo e um produto turístico que vem sendo
explorado por várias localidades. Sendo muito importante, pois proporciona
oportunidades, e várias possibilidades para o crescimento de uma determina da
região (FURTADO, 2004 apud BARROCO, 2008).
A tradição, a história, os sabores,
as técnicas e as práticas culinárias somadas são geradores da formação das
culturas regionais. Percebe-se que há uma tendência das sociedades à
valorização patrimonial de sua cozinha, bem como o resgate da culinária
tradicional em várias partes do mundo, ocorrendo, então, a revalorização das
raízes culturais.
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Abraço,
Jeiane Costa.
jeianecosta.novel@outlook.com
www.portalolhardinamico.com.br
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Créditos especiais:
ABREU, Edeli Simoni de Abreu; VIANA, Isabel Cristina; MORENO, Rosymaura Baena; TORRES, Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva. [artigo] Alimentação mundial – uma reflexão sobre a história. Saude soc. Vol. 10 nº2 São Paulo. Aug./Dec.2001
BRAGA, Vivian. [artigo] cultura alimentar: contribuições da antropologia da alimentação. Saúde em revista. Disponivel em:<www.unimep.br/phpg/editora/revistaspdf/saude13art05.pdf>. Acesso jun 2015
BURITY, Ana Leticia. [dissertação] Culinária maranhense: a Identidade Alimentar na capital do Maranhão sob o olhar dos frequentadores das áreas turísticas. 2014.
CARVALHO, João Renôr Ferreira de. Ação e presença dos portugueses na Costa Norte do Brasil no século XVII – a guerra do maranhão. Teresina: EDUFPI, e Ethos Editora, 2014.
CAVALCANTI, Pedro. A pátria nas panelas: historias e receitas da cozinha brasileira. São Paulo: ed. Senac São Paulo, 2007
DAMATTA, Roberto. O que Faz o brasil, Brasil. Rio de janeiro: ed. ROCCO, 1986.
FRANCO, Ariovaldo. De caçador a gourmet: uma historia da gastronomia. Ed SENAC São Paulo. 2010
FREEDMAN, Paul. A historia do sabor. organizador; tradução de Anthony Sean Cleaver. – São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2009
FREIXA, Dolores; CHAVES, Guta. Gastronomia no Brasil e no mundo. 2 ed. 2 reimpr. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2012
LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A Fundação Francesa de São Luis e seus mitos.
LEAL, Maria Leonor de M.S. A historia da gastronomia. SENAC. DN. Rio de Janeiro. Ed. Senac Nacional, 1998
LIMA, Zelinda Machado de Castro. Pecados da gula: comeres e beberes das gentes do Maranhão. 2 ed. Amp. – São Luis: instituto Geia, 2012
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