Billin, 12 de
Maio de 1835.
Amada,
querida Maria Luísa,
É
bem sabido que toda dama da corte deseja ser uma verdadeira nobre. Lutar e
honrar o nome que lhe remete poder e tradição familiar. Sentir a adrenalina de
descobrir novos caminhos, mesmo que isso signifique ser uma longa jornada que
custe sua própria vida pela glória. Preencher a história de um povo e jamais
ser esquecida, mesmo após certas tomadas de decisões que podem torna-la
eternamente odiada ou amada por uma nação.
A
mim foi incumbido essa missão desde que eu estava prestes a nascer. O título de
arquiduquesa somada às tradições de nosso antigo reino, que era regido graças à
ideia de nosso respeitoso e mais antigo ancestral, D. Afonso VI - “Bella gerant alii, Protesilau amet! Aliis
nam quae Marte, dat tibi diva Venus” (Deixam que os outros façam guerra,
Protesilaus ama! O que Marte dá aos demais, para ti será um presente de Vênus) –
que eram respeitadas e levadas muito a sério pela corte.
Graças
a esse lema, durante o processo de expansão territorial de nossos domínios, dor,
sofrimento e derramamento de sangue meio as lutas foram evitadas, graças a esse
pensamento que conseguiram firmar a tempo importantes acordos matrimoniais.
Durante
séculos nosso império manteve-se firme. Príncipes e princesas nasceram e foram
educados com o que melhor existia para que houvesse os maiores reinados e assim
mantivesse a proteção e honra do nosso glorioso nome. Desde cedo, as novas
gerações eram inspiradas a desejarem manter qualidade de seus futuros tronos e
desenvolviam a compaixão pela sua gente.
Aprendemos
que ser considerado nobre era uma pesada incumbência, principalmente por se
tratar de governar pessoas e ter sabedoria para reinar o mais longo período
possível em um novo país, como aconteceu com as minhas irmãs mais velhas Maria
Tereza e Maria Josefina com a missão de solidificar nossos reinos ao se casarem
com os príncipes D. Filipi III e o arquiduque D. Leopoldo. Presenciei em seus
semblantes a tristeza em deixar nossa terra natal ao mesmo tempo em que
mantinha a cabeça erguida, transparecendo em seus olhos o profundo orgulho e a
honra de partir para representar a nossa pátria em lugares distantes e ainda
desconhecidos por mim.
Como uma princesa, minha vida era regida por
regras claras e cronograma preestabelecido: aprendi a ler e escrever, diversos
idiomas como alemão, francês e italiano, etiqueta, dança, canto, desenho,
pintura, história e geografia, aritmética e música; latim e trabalhos manuais.
Desenvolvi inclinações particulares para música: de todos os instrumentos, o
piano era o meu favorito.
Sabia
que o mesmo destino empregado às minhas irmãs logo chegaria até mim assim que
ouvi rumores de que um terrível imperador reergueu-se das cinzas com o fim de
uma sangrenta Revolução e que agora estava varrendo reinados próximos aos nossos
limites.
Horrendas
notícias transitavam entre os povos que faziam parte do Tratado Protesilaus e
chamavam esse imperador de “Besta apocalíptica”. Minha querida mãe, grávida do
meu irmão mais novo, adoeceu temerosa pela nossa família quando recebeu a
notícia de que D. Arthur D’Ford – primo do esposo de minha irmã Maria Tereza - havia
sido vorazmente assassinado e teve toda sua corte executada por não aceitar as
imposições políticas e dominantes desse imperador.
Após séculos de paz entre o continente, tudo
estava a prestes a ruir quando mais uma vez ouviu-se tristes notícias de que o
conde Wallis havia sido enganado quando ofereceu sua única filha Ana Carolina
Líz na tentativa de conseguir firmar um acordo de paz através da união
matrimonial, desistindo do compromisso da filha com o nobre Luís Henrique II,
ao entregar a mão de sua filha ao imperador.
Este
por sua vez, a desonrou e em seguida a obrigou a se casar com um fidalgo de sua
corte. Desolada, Ana jogou-se de um penhasco ao mesmo tempo em que uma carta
escrita por ela destinada ao seu pai chegava a ele através de um mensageiro
real, pedindo perdão por ter fracassado em sua missão.
Triste,
escrevi em meu diário que faria com que aquela maldita besta pagasse por todos
os seus crimes.
A
fim de lutar pela honra de sua família e de seu povo, surgiram os cavaleiros da
ordem dos países que faziam parte do Tratado Protesilaus uniram-se para
combater o Anticristo.
Uma
crise jamais vista em todo continente assolou nosso povo. Minha mãe recebeu a
ordem do meu pai de que fugíssemos para a Abastia de San’Antônio. Lá poderíamos
ficar a salvos das garras da maldita besta enquanto ele lutava.
Partimos imediatamente aguardando novas ordens
reais. Em sinal de alerta, o conselho foi reunido
pelos principais representantes. Convencidos de que
a melhor maneira para combaterem o Imperador
seria unificando os reinos, um novo documento foi
redigido e como estratégia política, e assim, o
privilegium regnaturi foi criado.
O nosso reinado foi dividido em dois principais
reinos: o Reino do Norte, regido pelo General
Wenzel, líder doas celeiros da ordem e o Reino do
Sul regido por meu pai. O privilegium regnaturi
garantia aos demais nobres a autenticação de seus
títulos originas e a importante participação deles
politicamente.
A
guerra entre o Imperador e os Reinos do Norte e Sul foram chamados de Lutas dos
Nobres e durou cinco anos. Poucos acreditavam nos cavaleiros da ordem, mas com
o passar dos anos, eles conseguiram cada vez mais aliados políticos e novos
acordos foram firmados. O meu pai, por sua vez, conseguiu solidificar esse novo
governo e avançar juntamente com o conselho novas estratégicas políticas.
Alimentar
um exército não era uma tarefa fácil. Precisava-se de além de recursos, aliados.
Devido as grandes injustiças cometidas, as forças do Imperador estavam
diminuindo. Para que a Luta dos Nobres fosse um sucesso e o Imperador fosse
eliminado, faltava apenas que um nobre se juntasse ao grupo.
Era
o inverno de 1801. Mamãe estava enferma. A Abastia não possuía o mesmo conforto
que o palácio e a frieza mexiam com os seus pulmões. Saudosa do meu pai, e
desejando o fim dessa guerra, resolvi descumprir a ordem real que recebera e
voltei para casa. Eu sabia que estaria em apuros se fosse descoberta, mas
precisava fazer alguma coisa.
Não
imaginava que o destino estava a meu favor. Graças a minha teimosia, eu tive a
chance de resgatar a honra e as tradições de minha pátria, quase perdidas. Tive
a oportunidade de cumprir a minha promessa de destruir o nosso maior inimigo.
Levei
comigo minha corte e a bravura sempre escondida no peito ao entrar no palácio
após tanto tempo. Fui informada que meu
pai estava recebendo uma importante visita e que não poderia ser interrompido,
pois esse encontro resultaria no destino do nosso reino.
Enquanto
ele estava ocupado, resolvi preparar-lhe um banquete. Afinal de contas, eu
voltava para casa sem uma ordem sua e precisava de alguma forma lembrar-lhe de
que era necessário quebrar esse protocolo por se tratar de um assunto familiar
- ao mesmo tempo que ele possuía o
titulo de rei, ele era o meu pai – antes de ser acusada de traição real.
Com
a ajuda da minha corte, preparei o melhor jantar com todos os requintes
aprendidos durantes todos os meus anos no palácio para o meu pai e o seu
convidado. Era a sua ultima noite no palácio conosco o que significava que suas
decisões estavam prestes a ser tomadas.
O
momento finalmente chegou. Meu pai se apresentou ao recinto juntamente com o
concelho e o convidado. Senti o seu olhar cortante sobre mim que de
certa maneira acabou resfriando minhas mãos. Estou convicta de que meu coração
subiu à boca naquele momento imaginando qual seria minha punição.
Fechei
os olhos antes de saudá-los. Pronto. O espetáculo estava prestes a começar.
Apesar dos olhos duros do meu pai sobre mim, ele não comentou nada que pudesse
interferir no bem estar dos demais convidados. O jantar saiu muito bem, e após
esse momento, cantei para o deleite de todos que estavam ali. Notei que o convidado
do rei era estrangeiro, e apesar das diferenças culturais, ele acabou
aceitando o convite de ficar conosco por mais algumas noites.
Recebi
recomendações reais para preparar o entretenimento do seu convidado
durante os próximos dias. Sem perceber, a missão pelo qual eu nasci estava
começando com êxito. No ultimo dia, bastante satisfeito, aquele nobre homem,
juntamente com toda sua comitiva se despediu do palácio.
Meu
pai chamou-me a sua sala. Ele ralhou duramente comigo por minha irresponsabilidade
e desobediência por interferir naquela reunião tão importante. Todavia, para
minha surpresa, ele me informara que graças a minha atitude, eu conseguira
garantir a derrota daquele que trazia a desgraça do nosso reino. Eu finalmente
acabara de cumprir o meu papel e assumir a minha missão.
Algumas
semanas se passaram e o tratado entre o Reino do Norte e o Reino de Brézil foi
acordado. O inverno se findou e com todos os povos reunidos contra o inimigo, a
luta foi encerrada com a perda literal da cabeça do imperador.
Com
o final da guerra declarada, sentíamos a primavera chegando, trazendo consigo a
alegria. Os reinos decidiram manter a ordem, mamãe voltou para casa juntamente
com o meu irmão mais novo, o píncipe Miguel. Eu me preparava para partir.
Assim
como minhas irmãs Maria Tereza e Maria Josefina se casaram, um ano depois, eu
cruzei os mares em direção à Nova Terra. Lá conheci meu futuro esposo, o
Príncipe Edmundo por quem inesperadamente eu profundamente amei.
Mas
eu confesso caríssima Luíza, que de todos os desafios que a mim foi incumbido
desde antes o meu nascimento, o mais nobre de todos foi o de ser mãe.
Desde
o primeiro momento, quando descobrir esperar o meu primeiro filho, eu mudei.
Foi a maior e mais longa jornada da minha vida.
Eu
aprendi a esperar – ele demorou nove meses para que eu pudesse finalmente
conhece-lo; aprendi a chorar – quando eu vi o seu rosto pela primeira vez; eu
aprendi a proteger e cuidar de algo tão precioso que nem toda a riqueza do
mundo seria capaz de substitui-lo; aprendi a ensinar e a educar aquela criatura
que crescia dia após dia até se tornar o belo rapaz que vossamercê conhece.
Também
aprendi a repreender, sempre que necessário. Aprendi que mesmo depois de
adulto, ele continuaria sendo o meu bebê. Apendi a ama-lo incondicionalmente. E
desejo sinceramente que vossamercê possa fazer o mesmo agora que se tornarão
apenas um.
Desejo
que durante o vosso casamento vossamercês sejam muito felizes. Amem-se e mesmo
diante das dificuldades, confie um no outro. Sejam prudentes. Eu estarei sempre
aqui para ajuda-los no que for preciso.
Saudações,
Imperatriz
Isadora Catarina Franco.
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Abraço,
Jeiane Costa.
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