Olá pessoa querida!
Você conhece sobre a história do carnaval brasileiro? E como essa festa é celebrada na cidade de São Luís?
Confira!
"São Luís é um lugar conhecido como Patrimônio da humanidade, é um lugar
repleto de manifestações populares, riquíssimo culturalmente. Uma dessas festas
populares é o carnaval maranhense, caracterizado pela liberdade, espontaneidade
e um dos personagens principais desse espetáculo, “os blocos tradicionais”, que
encantaram milhares de foliões e ainda encantam com a cadência de seus
tambores, suas batucadas lentas e ritmos acelerados" (CARDOSO, 1998).
Festa europeia, o Carnaval
adaptou-se aos trópicos e neles conheceu uma expansão que não alcançou em suas
regiões de origem; sua adaptação foi tão bem sucedida que, em determinadas
cidades e vilarejos da América Espanhola, práticas indígenas se misturaram às
ibéricas.
É encontrado em várias cidades –
Vera Cruz (México), Ouro (Bolívia) -, mas desapareceu de algumas capitais, nas
quais fora outrora muito apreciado, como por exemplo em Buenos Aires. Assim
como na Europa, a festa carnavalesca na América Espanhola apresentou diferenças
de região a outra, ou de um povoado a outro.
Esta característica separa o
Carnaval europeu e hispano-americano do Carnaval brasileiro: no Brasil, por
toda parte as atividades festivas seguiram o mesmo esquema; as mesmas práticas
tenderam a se realizar. Somente o fato de ter lugar na mesma época do ano e de
se definir pela intensidade da alegria parece aproximar o Carnaval brasileiro
de seus semelhantes na América Ibérica e no velho continente.
Segundo (QUEIROZ, 1999), a festa
carnavalesca chegou ao continente sul-americano nas caravelas dos
colonizadores; no Brasil, ela foi constantemente marcada por contribuições
culturais sucessivas provenientes da Europa, os alimentos africanos se lhe
juntaram recentemente. Porém, tudo isto é ignorado no Brasil.
# Carnaval
no Brasil
A implantação do Carnaval no Brasil
ocorreu desde os primeiros tempos da colonização portuguesa com um sucesso
indiscutível. Sua celebração data de pelo menos três séculos, sempre com igual
entusiasmo. É citado em documentos que datam 1605, com o mesmo nome que
trouxera de Portugal – Entrudo – que significaria, ao que parece, “entrada”.
Enquanto na Europa e na América
Ibérica o Carnaval se associava a determinadas regiões e mesmo a algumas
pequenas aglomerações urbanas, no Brasil sempre foi encontrado em todos os
povoados e cidades. Seu sucesso crescente tornou-o uma das imagens marcantes
nacionais: “país do carnaval” é um dos atributos que o povo brasileiro se
orgulha.
No Brasil, as comemorações são
encontradas em toda parte e com o mesmo programa, as variações sendo mínimas:
desfiles de escolas de samba, bailes, pequenos grupos de sujos cantando e
dançando pelas esquinas constituem o programa habitual.
Poucas cidades apresentam folguedos
inéditos: meninos fantasiados de palhaços que fustigam os transeuntes com bolas
de gás coloridas, como os “Clovis” em certos bairros do Rio de Janeiro; os
trios elétricos em Salvador; o frevo em Pernambuco; as grandes figuras de papel
machê em Olinda e ainda, os blocos tradicionais de São Luís.
Analisando a comemoração,
observa-se que as práticas vinham diretamente de Portugal: ensopar de água as
pessoas, sujá-las com lama, com farinha, com cinzas. Estas brincadeiras tinham
lugar, a princípio, no interior das casas.
Os escravos eram indispensáveis à
fabricação dos elementos carnavalescos e à organização da festa; porém,
encarregava-se aí sua participação efetiva. Divertiam-se assistindo à
brincadeira de seus senhores. Podiam brincar entre si muito cedo pela manhã, em
torno das fontes e chafarizes, quando iam buscar água para a casa a que
pertenciam, ou então, no fim da tarde, uma vez terminado o trabalho.
Era inconcebível que um escravo
jogasse água ou farinha num homem livre, mesmo que esta fosse negro; o
contrario, porém podia com facilidade ocorrer. Os rapazes livres podiam tomar
por alvo um escravo; não o seu próprio, mas o que pertencia a alguém da família
ou dos amigos.
Negros e mulatos podiam ser
atacados pelos brancos, porém não tinham o direito de resposta: os folguedos do
Entrudo entre etnias eram rigorosamente assimétricos. Dessa forma, as
atividades festivas em seu desenvolvimento seguiam estritamente as divisões
étnicas e sócio-econômicas existentes na sociedade, as quais de forma alguma se
apagavam durante as comemorações.
Devido ao caráter grosseiro dessa
brincadeira, o carnaval acabou sofrendo forte repressão por parte da polícia,
das famílias e de grupos conservadores da sociedade. Com isso, surgiram
imposições que visavam dar mais respeito e organização ao entrudo.
E assim, o carnaval brasileiro
sofreu modificações, transformando-se radicalmente, novas formas de
divertimento tomando o lugar das antigas: o carnaval ganhou pomposidade, brilho
e maior participação de todos.
Surgiram os corsos, os ranchos e os
carros alegóricos com foliões jogando confetes e serpentinas, alegrando a rua e
sacudindo a cidade. A musicalidade brasileira se fez presente e surgem as
marchas-rancho, as marchas, os sambas e os sambas-de-enredo.
Assim, é possível perceber que os
realizadores atuais não pertencem às mesmas camadas sociais que os de
antigamente; A forma de organizar a festa tomou aspectos diferentes; os
folguedos são diferentes dos de outrora.
# Carnaval
maranhense
Aqui em São Luís, até a década de 1950,
o carnaval era bem diferente do de hoje. Os bailes da alta sociedade aconteciam
no Cassino Maranhense. Depois surgiu o Lítero e o Jaguarema, clubes sociais de
São Luís. Havia também as Brincadeiras Fidalgas, os Corsos, o Baralho, a
Caninha Verde, a Chegança, o Fandango, os Grupos de Urso, os Blocos e Assalto
Carnavalescos.
Tradicionalmente, o carnaval do
passado de São Luís foi essencialmente de rua. O entrudo era uma brincadeira de
água colorida, que manchava a roupa, de talco ou maisena, jogados sempre nos
olhos.
O maranhense tinha sua maneira
própria de brincar o carnaval. As brincadeiras de rua eram o corso, cordões de
urso, cruz-diabo, fofão, chegança, baralho e casinha da roça.
A grande concentração popular era
na Praça Deodoro e nas Avenidas Silva Maia e Gomes de Castro. O centro urbano
de São Luís era todo decorado com figuras de reis-momos, palhaços, odaliscas,
pierrôs, colombianas, arlequins e Zé-pereiras.
Nas horas de maior movimento
deixavam de circular os bondes do Anil, Areal (Monte Castelo), Estrada de
Ferro, Gonçalves Dias, João Paulo e São Pantaleão. O desfile começava às 16h e
terminava às 20h. Pela praça desfilavam grupos de pessoas fantasiadas, pessoas
vestidas de qualquer jeito e até homens nus da cintura para cima, o máximo de
nudez permitida.
Blocos como “Fuzileiros da
Fuzarca”, da Madre Deus; “Cadetes do Samba”, da Coréia; e “Vira-Latas”, do
Centro da cidade; turmas como da “Mangueira”, do João Paulo; e do “Quinto”, da
Madre Deus, eram alguns dos grupos já organizados e fantasiados daquela época.
Havia ainda os blocos que compareciam às
festas da sociedade como o “É do Cassino” e o “É só pra olhar”, ambos só de
moças; e “Os Sentenciados”, “É do Barulho”, “O Oba” e “Bando da Lua”,
integrados apenas por rapazes, retratando a separação dos sexos no Carnaval da
época.
>> Brincadeiras
Fidalgas
Era como uma espécie dessas escolas
de samba. Tinha o enredo bolado sobre a fidalguia. Um rei, uma rainha, uma
princesa, um oficial da marinha ou um plebeu se apaixonando pela princesa e não
podendo se casar com ela.
>> Corso
Espécie de carro alegórico que
desfilava depois das 16h pelas ruas da cidade, os corsos eram carros
particulares das famílias tradicionais que desfilavam em automóveis V-8,
Studbaker, e Baratinhas Ford, enfeitados com fitas e flores, de capota arriada,
levando moças e rapazes jogando confetes, serpentinas e lança-perfumes nas
pessoas.
Os corsos em caminhões eram os
populares. Nas barras de proteção da carroceria do caminhão eram colocados
tabuas para ficarem mais altas. O traje era uma blusa com uma saia ramalhuda
que cobria toda a barra da carroceria do caminhão, geralmente com um tema que
determinava a fantasia. A orquestra era formada por três ou quatro músicos,
sempre um ou dois instrumentos de sopro, indispensáveis para chamar a atenção.
As moças vinham cantando e batendo pandeirinhos de brinquedo.
Na década de 1950, os corsos
exibiam grandes animais de madeira e papelão: águias, elefantes, jacarés,
cavalos alados, pavão, ursos, figuras do mundo antigo, palácios e fontes com
uma criatividade igual a dos carnavalescos da década de 1970.
>> Chegança
Auto dos tempos coloniais, no qual um grupo de
pessoas representava personagens de um navio de guerra e simulava seus
trabalhos e manobras pelas ruas da cidade. O instrumento era o maracá, que todos
tocavam enquanto faziam encruzes de espadas com falas em verso até chegar a
hora de matar o mouro, que representava o almirante. Era um brincadeira muito
aplaudida pelo povo.
>> Cordão
de Urso ou Brincadeira de Urso
Folião fantasiado de urso, vestido
com um macacão de estopa (tecido grosseiro de cânhamo) esfiapado, de onde sai
um rabo comprido. O urso desfilava
preso a uma corrente puxada por um domador, com um chicote na mão, força o urso
a mostrar suas habilidades. O urso para
e dança na porta das casas, enquanto o macaco recolhia as gorjetas numa lata de
goiaba vazia. A dupla era acompanhada de uma charanga de apitos e batidos de
lata.
>> Baralho
Brincadeira formada por grupos
negros que percorriam as ruas da cidade cantando musicas com letras picantes de
duplo sentido, tocando castanhola, sanfona, pandeiros, reco-reco, tambores e
remexendo as cadeiras (quadris) em danças lascivas que escandalizavam a
sociedade da época. Isso gerou termos depreciativos como “negras do baralho” e
“polvilho do baralho”, com a intenção de rejeitar as pessoas que brincavam o
Baralho por ser uma brincadeira contagiante e alegre que atraia muita gente por
onde passava.
Eles se trajavam a vontade. Era
aquelas saias grandes, as mulheres, e os rapazes de calça, chapéu de palha,
cara pintada, tudo cheio de pó. Antes tinha cabacinha. Eles compravam bexiga de
boi, esticavam bem e fabricavam cabacinha com água e tinta colorida... Atirava
aquilo que espocava e sujava a roupa do camarada todinha.
>> Fofão
Fantasia que só existe no carnaval
maranhense. Alguns dizem que tem origem no bufão medieval que tem a mesma
tradição do bobo da corte, cuja função essencial era fazer rir. A fantasia consiste
em um largo macacão de chita ou de seda com guizos nas extremidades da gola, das
mangas e das pernas e uma horripilante mascara de borracha ou de papel machê
com bocarra e calombos na fronte e bochechas e geralmente um nariz enorme
insinuando um pênis.
Solitário ou em grupo, o fofão, com
seu grito: “Ulá! Lá! Lá!”, sua boneca, que entrega às pessoas para que lhe
restitua junto com algum dinheiro, e sua varinha, para espantar os cachorros,
foi a alegria e o terror de muitas crianças nos carnavais maranhenses.
>> Assalto
Carnavalesco
Era grupo para fazer baile, formado
por moças e rapazes da elite ludovicense, todos fantasiados de dominó, arlequim
ou mascarados de fofão, que “assaltava” a casa de determinada pessoa e fazia o
baile de carnaval. Essa maneira de brincar esteve presente no carnaval de São Luís
até o final da década de 1950. O dono da casa era avisado por um linguarudo que
seria “assaltado” e então comprava comida e bebida para receber o grupo, que
por sua vez levava a orquestra. O grupo chegava, batia na porta e ia entrando e
desarrumando a casa para criar espaço para festa.
>> Bailes
À noite, a animação era nos clubes.
No Cassino Maranhense, que ficava na Rua Grande, era realizado o baile da
elite, que contagiava os foliões, com mulheres usando meia mascara e fantasias
de luxo. O antigo cine Éden, também na Rua Grande, abria suas portas, À tarde
para os bailes da juventude pobre, e o SESI, na Rua Grande, era o clube social
para mocinhas pobres, na vesperal.
Nos clubes populares, onde as
mascaras tinham uma peculiaridade especifica, a animação era total. Nesses
bailes populares de mascaras, as mulheres entravam sós ou em grupo, sempre
mascaradas e fantasiadas. Eram frequentados por operarias de fabrica, empregadas
domesticas e trabalhadoras, em geral, de uma camada pobre.
O baile que se tornou mais famoso
por sua organização foi o “Baile de Moises”. O clube era decorado desde a
entrada com figuras carnavalescas. Ele formava as melhores orquestras porque
fazia teste prévio com os músicos. Nesses bailes não iam prostitutas. Elas
faziam os seus próprios bailes na Rua 28 de Julho no Centro Histórico. Logo o
baile de mascara entrou em crise na década de 1960, com a proibição desse
costume pelo prefeito de São Luís, Epitácio Cafeteira.
>> Blocos
tradicionais
Os blocos
tradicionais são considerados autênticos representantes do carnaval maranhense,
pois são originários daqui e desenvolveram aspectos próprios e característicos,
tanto na forma de brincar, como nas fantasias, ritmo e instrumento. Além disso,
os blocos tradicionais fazem parte de um grande patrimônio cultural, que
pertence à humanidade e constitui um grande potencial para o desenvolvimento do
turismo cultural de São Luís (CARDOSO, 1998).
Não se sabe
exatamente quando os primeiros blocos começaram a desfilar no carnaval
maranhense. Segundo alguns foliões e jornais, a partir da década de 1920, já
desfilavam alguns blocos tradicionais.
Como dito anteriormente, os blocos
tradicionais são considerados autênticos representantes do carnaval maranhense.
Uma vez que são originários da cidade de São Luís. Assim, com o passar do
tempo, eles desenvolveram aspectos próprios e característicos, tanto na forma
de brincar, fantasias, ritmo e instrumentos.
O período de apogeu dos blocos tradicionais
foi de 1930 a 1968. Os jornais da época fazem referencias aos blocos
“Vira-Latas”, Pif-Paf” e “Os Brotos”. Mas também havia os grupos “os Coringas”,
“Os Boêmios do Ritmo”, “Os Tarados”, “Cadetes da Lua”, “Grupo X”,
“Mal-encarados”, “Os Lunáticos”, “Os Calhambeques” e os “Os Ases do Ritmo”. Nesse
período, o bloco “Vira-Latas”, é o mais famoso grupo desta manifestação quando
o carnaval de São Luís acontecia nos clubes, com a realização de grandes bailes
carnavalescos ou em festas promovidos pela elite e pela intelectualidade, nos sobrados
do centro da cidade.
É interessante ressaltar que nesse
período as mulheres não participavam dos blocos, sendo estes formados
unicamente por homens. Somente a partir de 1945 é que os blocos começaram a
admitir o ingresso de mulheres e crianças em suas fileiras, aumentando o número
de brincantes nos blocos.
Com o decorrer
do tempo devido as novas tendências, os blocos da cidade de São Luís sofreram
alterações no ritmo e na dança. Hoje os blocos
produzem camisas, bonés, CD´s e vendem estes produtos para os próprios
componentes, simpatizantes da brincadeira e, vez ou outra, para os turistas.
Se você gostou dessa postagem, deixe seu comentário abaixo, compartilhe com seus amigos e inscreva-se aqui, pois assim você receberá notificações de novas postagens. Até a próxima.
Abraço,
Jeiane Costa.
e-mail: jeianecosta.novel@outlook.com
Instagram: meioaspalavras
Twitter: https://twitter.com/Meioaspalavras
www.portalolhardinamico.com.br
Créditos Especiais:
NUNES, Izaurina Maria de Azevedo. Olhar, memória e reflexões sobre a gente do maranhão. São Luis: Comissão maranhense do folclore, 2003.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira. Carnaval brasileiro: o vivido e o mito. São Paulo: Brasiliense, 1999.
RUSS, Jacqueline. Dicionário de filosofia. São Paulo: Scipione, 2003.
CARDOSO, Maria da Graça Reis. Estudo dos blocos tradicionais de ritmo de São Luis. São Luis, 1998.
LISBOA, Conceição de Maria Caldas. Uma etnografia interpretativa dos blocos tradicionais de São Luis. REVISTA CAMBIAS SU - UFMA. São Luis, Ano XVIII, nº4. 2008.
Ilustração Jeiane Costa
Imagem 1:Desenho de Jean Baptiste-Debret (1768-1848) mostrando a brincadeira do entrudo entre os escravos
Imagem 2:Foliões do Bloco Vira-LataFoliões do Bloco Vira-LataComo tintas no rosto encharcado de suor, as lembranças de carnavais passados vão-se decompondo com o tempo. Mas alguma coisa ficou retida à altura do coração e, reincidente, se insinua ao menor apelo, devolvendo imagens e sons, como o burburinho em torno dos chamados blocos tradicionais, que marcaram a adolescência da minha geração nos anos 1960. Alguns desses blocos já pareciam crucificados pelo passado, como o Vira-Lata, o Coringa e o Pif-Paf, entre outros, passando a fazer parte de um baú de fantasias. Era preciso um registro, sobretudo, pela importância que tiveram os grupos mais antigos na concepção do samba maranhense.
Imagem 3: Fofão
Imagem 4: Imagem representando bloco tradicional maranhense e a beleza de suas fantasias. Observe um dos instrumentos usados durante a apresentação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário