domingo, 10 de setembro de 2017

Para CONHECER: # São Luís - O século do francesismo

Olá pessoas queridas!

Você sabia que apesar de São Luís ter sido invadido pelos franceses (1612) e ter sido recuperado pelos portugueses (1615), houve uma época em sua história em que a cultura ludovicense sofreu influências francesas no seu cotidiano?

Confira!



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Entre 1780 e 1820, o Maranhão experimentou uma posição singular perante a economia brasileira. Como consequência, houve uma elevação cultural e mudanças na sociedade maranhense, possibilitando a sua projeção no âmbito intelectual.

Lacroix¹ afirma que de imediato, houve uma reação às ideias advindas da revolução francesa e até mesmo a proibição da entrada em São Luís de obras consideradas demoníacas. Todavia, nas primeiras décadas do século XIX surgiram influências decorrentes desse movimento nos discursos de deputados maranhenses. Além disso,  os temas políticos, ideias liberais e o vocabulário aparecem nos poemas, romances e artigos de jornais dos letrados ludovicenses.

Nesse período, maranhenses estudaram Medicina na França. Receberam uma formação europeia, coimbrã, britânica ou francesa, destacando-se, os hábitos parisienses. Os rapazes de famílias menos abastadas, estudavam na faculdade de Direito em Olinda (Recife).
Os costumes patriarcais da Província foram se modificando: as boas maneiras cuidadosamente praticadas e certos costumes foram abolidos. As damas antes transportadas nas tabocas, passaram a fazer suas visitas transportadas nos palanquins – uns dourados, outros pintados a óleo, outros entalhados com estofados, portinholas desenhadas à imitação europeia. Os negros carregavam esses palanquins em seus trajes com com librés de cores berrantes, à moda da corte francesa.


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No Maranhão, a moda francesa foi absorvida. O vestuário se transformou: as saias de seda, as camisas de cambraia e o xale de lã foram substituídos pelas saias de balão e corpetes de pafos com talas de baleia. Os homens abandonaram a casaca de seda cor de pérola e o calção de cetim azul pela casaca, a sobrecasaca e a calça de casimira francesa. Usavam também chapéus do mais alto estilo britânico fabricados pelos irmãos Bluhm, que obedeciam rigorosamente à moda londrina.

As joalheiras daquela época vendiam muito conto em joias. Os cabelerieiros Fortunado e Louis Ory eram os responsáveis em pentear as senhoras maranhenses para bailes, casamentos e festas religiosas, conforme ditava a moda francesa.



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A gastronomia também sofreu influencias nesse período: Tornou-se corriqueiro o uso de servir em bandejas de prata ou de faience o xerez, o madeira, o champanhe de ouro ou de purpura, o tocái, o lágrima cristi, a ambrosia, as capelas, trouxas de ovo, o leite creme, hatchis oriental à Monte-Cristo, os sorvetes gelados do Ocidente, o néctar dos deuses. Nada faltava nos casarões e era servido com a graça, presteza e ordem, ditadas pelas boas maneiras europeias.

Palavras francesas foram inseridas no vocabulário usual do maranhense. Pessoas nascidas nas ultimas décadas do século XIX e que viveram algumas décadas do século XX, vez por outa falavam expressões francesas, tais como, tout le mond, partout, laissez faire, etc. Até meados do século XX, a linguagem do maranhense diferia dos outros estados, pelo uso de expressões francesas substitutivas das palavras análogas do português, tais como: matinée (matinal), liseuse (golão), chambre (camisola), coquette (elegante), coqueluche (em moda), rouge (carmim), dentre outras.



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O teatro mudou de feição. Companhias líricas europeias passaram a vir a São Luís cantar para um publico mais sofisticado. Essa influências foram inseridas nas obras escritas na língua portuguesa, pois, não raro, continham expressões ou citações no idioma francês.

Os casarões de estilo colonial português também abrigaram salas sofisticadamente decoradas numa imitação aos salões da nobreza francesa.





A IDEOLOGIA DA SINGULARIDADE




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O estado do Maranhão foi instituído pela Coroa portuguesa independente do Brasil, conforme a Carta Régia de junho de 1621. Assim, essa separação não foi somente institucional, mas também, psicológica: particularmente, o ludovicense não se sentia brasileiro. Somente em 1823 o Maranhão integrou-se ao Brasil, desvinculando-se do jugo português.

Aquele crescimento econômico (1850 a 1870) estimulou o luxo, a sofisticação, alterou o comportamento da elite, emergindo uma mentalidade de superioridade da terra, indicando uma tentativa vigorosa de afastamento lusitano. Nesse ambiente, surgiu a ideia de uma elite diferente em comparação com o resto do Brasil.


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Alguns estudiosos atribuem à riqueza trazida pelo algodão no início do século XIX, a florescência intelectual, geradora de uma configuração cultural singular, num momento de emergência de autonomia política e administrativa do Brasil.

A imagem de sociedade instruída, representada por um grupo de estudiosos e intelectuais criativos, rendeu ao Maranhão o cognome de Atenas Brasileira e ao maranhense o status de ateniense de maneira generalizada, dissimulando uma visão concreta e efetiva daquela sociedade elitista e preconceituosa.


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A ideia de que a Atenas Brasileira era especial e superior foi aceita também pelos menos favorecidos, e o Maranhão em seu declínio econômico e cultural, por várias décadas foi nutrido por esse orgulho. Todavia, aquela efervescência intelectual do Maranhão do século XIX, restringiu-se a uma fatia mínima da população.

Pela visão exagerada de todo um questionável esplendor, o maranhense sentiu-se superior às populações das outra províncias e procurou buscar uma diferença, ainda que mítica, em suas origens.
     
   


AS MARCAS LUSITANAS



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As edificações de São Luís colonial, genuinamente portuguesas, foram conservadas e expandidas na época imperial, em seus rápidos períodos de bonança e influência francesa.

Até hoje são guardados os nomes das primeiras ruas, conservando o encanto muito especial das suas origens. Esses nomes diferenciam São Luís das outras capitais brasileiras, por lembrarem suas raízes lusitanas. Todavia, não há resquícios franceses nas ruas da Capital do Maranhão.

Desde os primeiros anos de vida da cidade de São Luís, as ruas e largos foram palco das crianças nas suas distrações infantis. Brincadeiras de meninas e meninos foram transportadas de Portugal, assim como as festas religiosas.



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Antes do Maranhão receber os escravos e consequentemente, sofrer as fortes influências da culinária africana, os colonos mostravam grande interesse ao cardápio lusitano, devido a importação de azeitonas portuguesas, azeite doce de Lisboa, alho, alcatrão, bacalhau português, canela, cebola, dentre outros produtos. As influências lusitanas estão presentes também na música e no folclore maranhense.

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Abraço, 


Fonte: ¹LACROIX, Maria de Lourdes. A fundação francesa de São Luis e seus mitos.
Imagem 1: Detalhe de janela de casarão antigo. Fotografia: Raimundo Nonato Costa.
Imagem 2: Detalhe de azulejos coloniais. Fotografia: Raimundo Nonato Costa.
Imagem 3: Esquina da Rua da Cruz. Fotografia: Raimundo Nonato Costa.
Imagem4: Azulejos coloniais. Fotografia: Raimundo Nonato Costa.
Imagem 5: Vista para São Luis. Fotografia: Raimundo Nonato Costa.
Imagem 6: casarão no centro histórico. Fotografia: Raimundo Nonato Costa.
Imagem 7: o muro e o tempo. Fotografia: Raimundo Nonato Costa.
Imagem 8: Casarão antigo. Fotografia: Raimundo Nonato Costa.
Imagem 9: Rua no centro histórico de São Luis. Raimundo Nonato Costa.

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