Olá pessoas queridas!
Você sabia que a gastronomia brasileira nasceu com a primeira integração da culinária portuguesa com a indígena, mesclada à cozinha africana? Confira agora mais detalhes sobre como tudo aconteceu!
Desejo a todos boa leitura!
As influências de vários povos e a
exuberância da natureza criaram uma diversidade regional surpreendente no país
com fartura de sabores e saberes que foram adquiridos ao longo do tempo.
Freixa e Chaves (2012) contam que
em 22 de Abril de 1500, após 44 dias de viagem, a frota de Pedro Alvares
Cabral, composta por 13 navios chegaram ao local que primeiro foi chamado de
Ilha de Vera Cruz.
Pero Vaz de
Caminha, escrivão da expedição de Cabral buscou descrever o que foi encontrado
nessa nova terra na carta-reportagem ao rei de Portugal, D. Manuel, e conta a
primeira reação que os indígenas tiveram com os hábitos alimentares dos
portugueses, bem como a relação ao modo de vida e de alimentação dos homens
desse lugar:
Os dois primeiros
que índios que foram levados à Nau Capitania para experimentar as comidas
portuguesas não gostaram de nada. Se algumas coisas provaram, logo as lançavam
fora. Mostraram-lhes um carneiro, não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma
galinha, quase tiveram medo dela, e não
lhe queriam pôr a mão. Depois a pegaram, mas muito espantados. Deram-lhes ali
de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados. Não
quiseram comer daquilo quase nada. E se provavam alguma coisa, logo a
lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho em
uma taça; mal lhe puseram a boca; não
gostaram de nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhe água
em uma albarrada, bochecharam-na e lançaram-na fora. ( Cortesão, 1999).
Assim,
esse choque cultural entre os portugueses e a população indígena que aqui vivia
no Brasil, mostra que os indígenas já haviam desenvolvido seu próprio meio de
sobrevivência e sua própria cultura alimentar:
Eles não lavram,
nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer
outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Não comem senão desse
inhame que aqui há muito e dessa semente e frutos, que a terra e as arvores de
si lançam. (Leal, 1998).
O
alimento chamado pelos portugueses de inhame, na verdade, tratava-se da
mandioca que era o alimento bastante consumido entre os habitantes, com a qual
faziam farinha e beiju. Os peixes eram um dos alimentos favoritos dos
indígenas, sendo cozidos ou assados.
O condimento essencial para o índio era a
pimenta que também se constituía em alimento isolado, sendo apreciada com a
farinha. Alguns indígenas obtinham o sal pela retenção da água do mar e outros
pela queima de terra salitrosa.
Leal
(1998) afirma que as populações indígenas que habitavam o território brasileiro
vivam em grupos, pescavam, caçavam e coletavam. Não tinha o hábito de plantar
frutas, apenas colhia o que a natureza lhe oferecia fartamente.
As refeições
não tinham horário fixo: os índios comiam quando sentiam fome. Eles conheciam
também muitas ervas medicinais. Esse conhecimento é utilizado até os dias de
hoje pelos fabricantes de remédios.
Como instrumentos de cozinha, o
índio usava panelas, espeto e moquém, uma espécie de grelha que colocava sobre
o fogo baixo, para assar o que seria conservado, afim de evitar o
apodrecimento.
O índio apreciava bastante as
bebidas e sabia fabrica-las a partir da fermentação da mandioca, do aipim, da
batata-doce e do milho, no entanto, desconheciam naquela época, as bebidas do
tipo refresco, em que a fruta e espremida e misturada com água.
Sobre o primeiro século após o
Descobrimento do Brasil, Hue (2009) conta que diversos testemunhos de padres,
senhores de engenhos, humanistas, cronistas, corsários e viajantes franceses,
alemães, ingleses, espanhóis e portugueses, através de escritos, alternam-se de
episódios de fome e abundancia:
Embrenhados em sertões pela primeira vez trilhados
por europeus ou em longas e acidentadas viagens marítimas pela costa
brasileira, nossos primeiros cronistas, principalmente os padres da Companhia
de Jesus e os homens do mar, sofriam com a escassez de víveres, com as doenças
tropicais e com a fome absoluta. Outros, ao narrarem a vida cotidiana nas
aldeias indígenas, nas vilas colonizadas e nas abastadas fazendas dos senhores
de engenho, descrevem uma abundancia e diversidade de caça, animais domésticos,
peixes e plantas que espantavam os europeus, que nunca tinham experimentado
tanta fartura. É entre esses dois polos que se divide a alimentação brasileira
dos primeiros tempos: entre as comidas difíceis de engolir, ingeridas por pura
necessidade, faustosos banquetes senhoriais e as frescas e saudáveis refeições
dos homens comuns.
Hue (2009) explica que essa
alternância entre fome e fartura indica dois tipos de vivência: A primeira se dá
em uma terra em permanente tensão entre colonos, índios e viajantes
estrangeiros, ou ainda nas agruras vividas no mar e nas viagens por matos
desconhecidos e inóspitos.
Havia fome também nos primeiros tempos de vilas que
depois seriam ricas e bem abastecidas, como Salvador, São Vicente e Piratininga
(São Paulo). Os que não estavam em busca de almas, mas de mercadorias ou apenas
de comida, tinham mais facilidade em conseguir provisões. Como exemplo, as
negociações do piloto italiano Antônio Pigafetta que ao narrar a passagem de
Fernão de Magalhães pelo Brasil em 1520, relata como foram fáceis e vantajosas
as negociações com os índios quanto a provisões de alimento:
Trocaram anzol por cinco galinhas, um pente por dois
gansos, um espelho por peixe suficiente para alimentar dez pessoas, um cinto
por um cesto de mandiocas, e por uma carta de um rei de ouros, cinco galinhas.
Leal (1998) afirma que os
portugueses trouxeram ao Brasil animais como bois, vacas, touros, ovelhas,
cabras, carneiros, porcos, galinhas, patos, gansos e outros que criavam nos
quintais e currais que faziam em suas fazendas.
Além disso, foram os responsáveis por plantar uma enorme quantidade de
frutas, legumes, vegetais, cereais e temperos.
Segundo Cascudo (2004) a culinária
africana introduziu ao nosso cardápio, o quiabo, o caruru, o inhame e suas
diversas variedades, a erva-doce, o gengibre- amarelo, o gergelim, o amendoim
africano, as melancias e o azeite de dendê.
A gastronomia brasileira nasceu com
a primeira integração da culinária portuguesa com a indígena, mesclada à
cozinha africana, mas tendo um forte domínio do colonizador sobre os demais.
Freixa e Chaves (2012) afirmam que
o prato símbolo da gastronomia brasileira é a feijoada. Sobre esse aspecto,
Cascudo diz que ao contrario do que costumamos ouvir, a feijoada deriva dos
cozido típicos da Europa, feitos de feijões-branco, favas ou grão-de-bico, como
o cozido português, o puchero (cozido espanhol) e o cassoulet (cozido francês).
Uma grande evidencia sobre esse fato é que a comida dos escravos era pobre em
nutrientes. consumiam uma mistura rala de feijão com farinha, às vezes com
pedaços de carne-seca ou toucinho.
É desconhecido quando e onde se fez
a primeira feijoada no Brasil. No entanto, diferentemente da feijoada europeia,
foram incorporados na feijoada o feijão-preto no cozido, além das partes do
porco, linguiça, paio, acompanhada de farofa, couve e laranja cortada em
rodelas.
Com o decorrer do tempo, técnicas
culinárias foram desenvolvidas e com o surgimento da globalização, novas
tendências e ingredientes foram inseridos a esse meio e influenciaram a
gastronomia brasileira, trazendo preocupação quanto à continuação da tradição
no preparo dos pratos, segundo Mendes (2014), ao mesmo tempo em que há essa
preocupação, também se observa um movimento de grande inovação na
culinária.
Sob esse aspecto, Mendes (2014)
afirma que muitos pratos têm sido recriados, de acordo com as possibilidades
locais, dando origem a novas interpretações. Salienta-se que as mais variadas
culturas evoluíram dentro de um equilíbrio alimentar próprio, o que demonstra
que suas escolhas revelaram uma sabedoria apreendida através de gerações.
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Abraço,
Jeiane Costa.
jeianecosta.novel@outlook.com
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Créditos especiais:
ABREU, Edeli Simoni de Abreu; VIANA, Isabel Cristina; MORENO, Rosymaura Baena; TORRES, Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva. [artigo] Alimentação mundial – uma reflexão sobre a história. Saude soc. Vol. 10 nº2 São Paulo. Aug./Dec.2001
BRAGA, Vivian. [artigo] cultura alimentar: contribuições da antropologia da alimentação. Saúde em revista. Disponivel em:<www.unimep.br/phpg/editora/revistaspdf/saude13art05.pdf>. Acesso jun 2015
BURITY, Ana Leticia. [dissertação] Culinária maranhense: a Identidade Alimentar na capital do Maranhão sob o olhar dos frequentadores das áreas turísticas. 2014.
CARVALHO, João Renôr Ferreira de. Ação e presença dos portugueses na Costa Norte do Brasil no século XVII – a guerra do maranhão. Teresina: EDUFPI, e Ethos Editora, 2014.
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DAMATTA, Roberto. O que Faz o brasil, Brasil. Rio de janeiro: ed. ROCCO, 1986.
FRANCO, Ariovaldo. De caçador a gourmet: uma historia da gastronomia. Ed SENAC São Paulo. 2010
FREEDMAN, Paul. A historia do sabor. organizador; tradução de Anthony Sean Cleaver. – São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2009
FREIXA, Dolores; CHAVES, Guta. Gastronomia no Brasil e no mundo. 2 ed. 2 reimpr. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2012
LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A Fundação Francesa de São Luis e seus mitos.
LEAL, Maria Leonor de M.S. A historia da gastronomia. SENAC. DN. Rio de Janeiro. Ed. Senac Nacional, 1998
LIMA, Zelinda Machado de Castro. Pecados da gula: comeres e beberes das gentes do Maranhão. 2 ed. Amp. – São Luis: instituto Geia, 2012
MONTANARI, Massimo. Comida como cultura. Tradução de Leticia Martins de Andrade. São Paulo: Senac São Paulo, 2008
imagem 2. Disponivel em: <http://www.voltairenet.org/article123357.html>. Acessado em: 14.11.17
imagem 3. Disponivel em: <https://www.uai.com.br/app/noticia/gastronomia/2016/09/13/noticias-gastronomia,184068/livros-apresentam-um-caleidoscopio-da-culinaria.shtml>. Acessado em 14.11.17
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